A escolha do termo para dar título a um blogue, adequado enquanto referente de um propósito de “auto-publicação”, e certamente pouco original, não deixa de carrear, na Era da Informação, uma nuance de paradoxo, dada a liberdade descomedida, procedente da tecnologia (o ludita em mim estremece), que torna o samizdat não só exequível, mas também ubíquo e perene. Tudo o que é frívolo e banal, vulgar e desprezível, ou simplesmente mau, é difundido ao lado de grandes questões da humanidade em formatos idênticos e confundíveis (o niilista em mim regozija), inviabilizando hierarquias de valores e saberes absolutos e celebrando o supérfluo e o transitório. A informação repete-se, degrada-se, perde-se e confunde-se no labirinto metafísico dos links, cujo único fio de Ariadne acaba por ser, inevitavelmente e sem surpresa, o do dinheiro.
Ao acto pelo risco dos criadores de samizdat, sucede uma actividade auto-complacente, embevecida de si mesma. Não há esqualidez ou ascetismo on-line; o blogue é o free range dos egos, a blogosfera o latifúndio do compadrio. Como não pertencer? Impossível permanecer fora do labirinto: o bramido do Minotauro, com o timbre de bronze que o monstro herdou do momento da sua concepção, é, aquém da manifesta ameaça de morte e desmembramento que comunica, tão atractivo quanto o canto das sereias. Publiquemos. Fomentemos a irrelevância.
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