Com estas palavras, R. W. Emerson congratulou, numa das mais famosas cartas de entre as que alguma vez se escreveram a um autor principiante, Walt Whitman pela primeira edição da sua colectânea de poemas Leaves of Grass. Whitman, por sua vez, publicou a carta, em conjunto com a sua resposta em carta aberta na segunda edição (aumentada) de Leaves, e reproduzindo em letras douradas, na lombada, o ditame de Emerson que serve de título a este post. Um gesto venal, talvez, que arrefeceu o entusiasmo do filósofo do Massachusetts ante a obra e o poeta que ele mesmo havia conjurado*. Leaves of Grass conheceu um total nove versões durante a vida de Whitman (a derradeira é mesmo conhecida como deathbed edition), cada uma delas sujeita a revisões, acrescentos e, por vezes, remoções; em pelo menos uma delas, Whitman incluiria uma das inúmeras críticas desfavoráveis com que o seu livro foi acolhido: aquela que categoriza o volume como a mass of stupid filth e o respectivo autor como a filthy free lover.
É este cuidado para com o texto como coisa viva e dinâmica, esta dedicação a uma obra única que é, num mesmo movimento, testamento e celebração de si mesma, esta desassombrada consciência meta-literária que chama a si os seus subprodutos e exibe o galardão ao lado da invectiva, enfim, este domínio do objecto de expressão que é tanto ferramenta quanto produto, é tudo isto, dizíamos, que nos leva a invocar Walt Whitman, neste primeiro post, como padroeiro do Samizdat . He calls Walt: gritamos com Álvaro de Campos, e havemos de montar um altarzinho ao grande bastardo de Apolo para que nos guie ele, como espírito tutelar, na aventura da auto-publicação.
* Num ensaio de 1845, intitulado ''O poeta'', Emerson expressou a urgência de um novo tipo de poeta nativo aos Estados Unidos que cantasse as virtudes e vícios do jovem país; Whitman, ao iniciar a escrita de Leaves of Grass, estava a responder ao apelo de Emerson.
Sem comentários:
Enviar um comentário